Mulheres na Historia africana em Mato Grosso

  




LIVRO ILUSTRADO  

Mulheres na História Africana

Em Mato Grosso



                    Créditos: brunodellani.com


LIVRO Nº 01



 

Dissertação (Mestrado) – Mestrado Profissional em Ensino de História (profhistória)pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de mato Grosso, (ufmt).

CRISTINA SOARES











Produção: Cristina Soares

Orientação: Bruno Pinheiro Rodrigues

Capa: Bruno Dellani

Roteiro: Cristina Soares e Everson Constantino

Pesquisa e Ilustração: Cristina Soares

Diagramação: Hernane Beltrão

















Dedicatória: 

Dedico à minha mãe, meu grande espelho ancestral














Apresentação

O fato de você estar com este caderno em mãos e estar lendo a introdução neste momento, significa que nosso objetivo deu certo. Este material foi construído exatamente para você. Cada detalhe foi pensado com todo o carinho para que sua vida pudesse ganhar novos significados a partir de cada página.

Estamos apresentando a você a história de três mulheres que fazem parte da História africana em Mato Grosso. São mulheres que farão você suspirar, se emocionar e se apaixonar por suas vidas e suas lutas. Elas te farão perceber que a vida é composta de luta, resistência, união, bondade, inteligência e muita vontade de vencer.

Mãe Bonifácia talvez te lembre de sua avó, aquela mulher de olhar doce e gestos bondosos. Aquela que costura suas roupas rasgadas e que não sai do seu lado  quando você leva uma bronca ou quando sente uma pequena febre. Ou então, poderia ser a avó que você nunca teve, mas que sonha em ter, aquela avó que é tão tranquila como uma manhã de domingo.

Maria Taquara pode te fazer lembrar de sua professora. Aquela que te conta como é o mundo de verdade, que te mostra que você deve ter coragem para enfrentar as regras injustas que lhe são impostas. Sim, Maria Taquara poderia ser aquela professora que, a despeito de muitos chamarem-na de “estranha”, você ama a forma como ela é inteligente e tem personalidade marcante.

E Tereza de Benguela, quem ela traz à sua memória? Talvez essa rainha faça você se lembrar de todas as mulheres negras que você já conheceu e conhece, talvez ela te faça perceber o quanto o racismo é algo injusto e, assim, te ajude a compreender que sua maior força está em nunca se entregar, mas sempre lutar. Lutar por um mundo diferente, em que todas as pessoas possam ser tratadas como iguais e vivam livres do racismo e de todas as formas de opressão.

Se você chegou até aqui, temos certeza de que terá uma experiência única, que te ajudará a mudar a realidade à sua volta!

Um grande abraço!, 


Cristina Soares




Cuiabá/ janeiro/ 2021



 

Mulheres na história africana em Mato Grosso

Mãe Bonifácia, Maria Taquara, Tereza de Benguela



MÃE BONIFÁCIA

Breve histórico

Com um vasto conhecimento sobre plantas, a curandeira africana era a esperança para os fracos e oprimidos. Ela curava as pessoas que, escravizadas e enfermas a procuravam fugindo do cativeiro, salvava-os da perseguição e os guiava pelo rio até o quilombo situado na mata densa, onde hoje se localiza o parque “Mãe Bonifácia” em Cuiabá. Moradores antigos em Cuiabá contam que Mãe Bonifácia sentia fortes dores no peito, que só podiam ser amenizadas se ela conseguisse salvar aqueles que passavam pelo mesmo sofrimento que ela já havia passado, ou seja, a privação da liberdade. Quando havia revolta em Cuiabá, os escravizados que conseguiam fugir procuravam Mãe Bonifácia, que os auxiliava e os escondia. Mãe Bonifácia, sem dúvidas, foi uma mulher africana, portadora do matriarcado, ícone da generosidade e coragem, guardiã dos costumes ancestrais.










MÃE BONIFÁCIA: Matriarca africana, uma guardiã dos costumes ancestrais.                  

Roteiro: Cristina Soares e Everson Constantino

Ilustração: Cristina Soares





Uma das violências que os escravizadores cometiam contra os cativos africanos era tentar obrigá-los a esquecerem a sua própria história. Porém, por mais que tentassem, os africanos  resistiram bravamente e não abandonaram os costumes e a cultura que aprenderam em sua terra.

Mãe Bonifácia é uma das pessoas que descendem dos africanos que foram trazidos cativos para o Brasil. Ela viveu em Cuiabá no século XIX e foi escravizada durante muitos anos. A história não registra seu verdadeiro nome, mas sabemos que ela possuía um nome cristão que foi dado pelos colonizadores. Porém, ela sabia exatamente quem era, nunca se esqueceu das histórias que ouvia sobre sua terra, da sua cultura e dos costumes que aprendeu com seus ancestrais.  Mãe Bonifácia testemunhou muitos dos horrores da escravidão, mas não se entregou. Muito pelo contrário, ela resistiu e usou seu conhecimento e sua sabedoria para ajudar aqueles que passaram por uma situação parecida com a sua. Ela era uma mulher tão sábia e generosa, que lembrava as mães africanas cuidando de seus filhos, por isso que substituíram seu desconhecido nome cristão por “Mãe Bonifácia”.

O tráfico de africanos escravizados para o Brasil começou por volta de 1535. O Brasil chegou a ser o maior território escravista do hemisfério ocidental e  foi a nação que mais tempo resistiu em acabar com o tráfico negreiro, por isso, foi o último a abolir oficialmente a escravidão no continente americano (1888).

Os colonizadores europeus que invadiram o continente africano, se enriqueceram às custas do trabalho dos cativos raptados na África. Como resistência à escravidão, muitos cativos fugiram, porém, como os colonos não queriam perder aquilo que consideravam ser sua “mercadoria”, perseguiam aqueles que fugiam e até matavam alguns como exemplo para que os demais não tentassem novas fugas.

Mãe Bonifácia, por carregar consigo a herança ancestral, de um continente onde as pessoas tinham uma relação de ajuda mútua e cuidado com sua família e sua comunidade, mesmo após ser libertada pelos senhores de engenho, procurava ajudar seu povo, recebendo em sua casa as pessoas que fugiam da escravidão.

 Sua casa ficava em um barracão em frente ao que hoje é o 44° Batalhão, numa estrada onde, hoje, se chama Estrada da Guia, localizada em Cuiabá- MT.

Quando as pessoas eram libertas, ou mesmo fugiam da escravidão, não havia emprego remunerado para que elas pudessem trabalhar, pois os colonizadores só se aproveitavam de seu trabalho forçado e  não remunerado. Dessa forma, eles tiveram que usar de muita inteligência, estratégia, força  e habilidades para sobreviver em uma sociedade capitalista que tinha uma visão de mundo europeia e tratava as pessoas negras como inferiores. Mãe Bonifácia, por exemplo, possuía uma enorme habilidade artesanal na fabricação têxtil de renda tecida com bilros, uma renda confeccionada a partir de entrelaçamentos dos fios.

Com os lucros das vendas de suas rendas e demais peças artesanais, ela desfrutava de um certo conforto, atípico à sua condição de mulher negra que, apesar de alforriada, vivia nesse período marcado por forte racismo e machismo. A mulher negra sempre havia trabalhado, porém, exigia muita criatividade da mulher, conseguir uma boa renda com a força de  seu trabalho. A  criatividade  foi algo marcante nas mulheres negras nesse período de escravidão. Nesse ínterim, também havia mulheres que obtinham uma renda por meio da venda de quitutes nas quitandas de doces nas feiras, nas ruas e, assim como Mãe Bonifácia, conseguiam sobreviver por serem criativas e habilidosas.

Além das rendas de bilros e das demais peças de fabricação artesanal, Mãe Bonifácia também trabalhava no cultivo do milho, da mandioca, do feijão e da cana-de-açúcar mantendo, deste modo, seu sustento e sobrevivência financeira.

Como boa administradora que era, sua renda vinha também do pecúlio (soma economizada e reservada em dinheiro para uma eventualidade futura), que era materializado em peças de prata e ouro, típicos utensílios utilizados pelas famílias ricas da sociedade cuiabana da época que, por sua vez, sempre requisitava serviços de Mãe Bonifácia.

O continente africano é um lugar onde as pessoas têm grande respeito com os mais velhos, com as mulheres (matriarcas), com a natureza e com suas divindades. Mãe Bonifácia, por não ter perdido a ligação ancestral com sua terra, possuía um enorme conhecimento das plantas, aquele conhecimento que foi herdado de gerações anteriores. Ela usou seu conhecimento e sua religião ancestral para curar as pessoas doentes. Assim como fazem muitas mulheres africanas que hoje recebem o nome de benzedeiras. Mãe Bonifácia fortalecia seu povo com suas palavras e seu cuidado. As pessoas que fugiam da escravidão, ou mesmo, as que ainda se encontravam escravizadas, viam em Mãe Bonifácia um abrigo. 

Quando os cativos fugiam da escravidão, eles eram perseguidos por capitães do mato a mando dos seus  senhores, porém, muitos procuravam Mãe Bonifácia, pois sabiam que ela lhes daria abrigo e os auxiliaria nas fugas. Ela os guiava pelo rio até o lugar em que ficava o quilombo, situado na mata densa, uma mata fechada, típica da  vegetação matogrossense. 

Mãe Bonifácia acreditava que em densas matas eles teriam maior possibilidade de escapar, pois se tornavam menos rastreáveis pelos cães que eram levados nas perseguições e, assim, não seriam capturados pelos capitães do mato. Ela se arriscava para ajudar seus irmãos a conquistarem a liberdade. 

 Aqueles que conseguiram se estabelecer no quilombo que hoje recebe o nome de Parque Mãe Bonifácia, podiam desfrutar de uma vida livre, organizada de forma muito parecida com sua vida no continente africano.







Os quilombos (kilombos), do ovimbundo ochilombo, surgiram na África Central e, quando surgiram, eram campos de iniciação masculina, onde os meninos aprendiam os segredos das florestas e se tornavam homens. Os guerreiros jagas (da região onde hoje é a Angola) viviam nesses acampamentos e povoações onde passavam por intenso treinamento militar. Ao longo dos tempos, os quilombos começaram a se referir a vilarejos e povoações em geral. No Brasil, os quilombos se tornaram centros de resistência dos escravizados que procuravam uma forma de vida livre da escravidão.

No continente africano, existem formas de organização chamadas “matriarcais”, que se diferem da forma de organização que temos no ocidente, que é um modelo “patriarcal”. No patriarcado, o papel da mulher é inferiorizado e as conquistas obtidas por esses "patriarcas" têm base na violência e no domínio de povos que são considerados pelos homens brancos como inferiores. Na organização matriarcal, a mulher tem um papel relevante na sociedade  e  esta é organizada de forma solidária e inclusiva. A comunidade geralmente recorre a anciã para ouvir conselhos, pois respeita sua sabedoria e coragem, herdadas matrinilineramente. Mãe Bonifácia  era vista por sua comunidade como alguém que possuía um conhecimento e sabedoria capazes de contribuir para o fortalecimento de seu povo.

Mesmo conhecendo os riscos que corria por ajudar os cativos que fugiam, Mãe Bonifácia preferia se arriscar a ver seu povo sendo novamente oprimido pelos brancos colonizadores.



Ela sentia fortes dores no peito que só eram amenizadas quando conseguia salvar aqueles que passavam pelo mesmo sofrimento que ela havia passado: a privação da liberdade.


Em uma sociedade massacrada pelo racismo, Mãe Bonifácia mostrou ao seu povo que eles não eram inferiores, mas sim, que vinham de uma terra rica em cultura e história. Quando seu povo olhava para Mãe Bonifácia, percebiam que ela era uma figura tão poderosa que era capaz de levar a cura para suas feridas causadas pela escravidão.



No início do segundo semestre do ano de 1867, época que corresponde à guerra contra o Paraguai, a capital de Mato Grosso, Cuiabá, passou por um grave surto de varíola, uma  doença que causava fortes dores nos músculos, irritação na pele, bolhas, manchas e gripe intensa. Nesse período Mãe Bonifácia  caiu enferma.

Acometida pela doença da varíola e recebendo uma intimação para se isolar, antes de deixar seu lar, Mãe Bonifácia, juntou todos os seus objetos de valor, como jóias e utensílios diversos, colocou-os dentro de um caldeirão de ferro e os enterrou nas proximidades de sua casa, na intenção de resgatá-los ao recuperar-se da doença e retornar ao seu lar. No entanto, esse retorno nunca aconteceu. 

Mãe Bonifácia acabou falecendo em decorrência da varíola e, apesar de seus grandes feitos, foi, naquele momento, injustamente ignorada pela sociedade cuiabana.

 

Após sua morte, seu corpo foi transportado por uma carroça até o cemitério do Cai-Cai e ali foi enterrada em uma vala comum.

Depois de sua  morte, Mãe Bonifácia, teve sua casa transformada em um Lazareto pelo então presidente da província José Vieira Couto Magalhães. O Lazareto era um lugar que tinha por finalidade abrigar os suspeitos de varíola que seriam mantidos em observação e isolamento, através de quarentena, para que outras pessoas não fossem infectadas pela doença. 

Com o término da epidemia,  a casa em que morava Mãe Bonifácia e que fora transformada em Lazareto, foi abandonada e, com isso, houve uma massiva presença de pessoas interessadas nos bens que ela havia enterrado em seu território.

Apesar de ter sido esquecida, inicialmente, quando morreu em decorrência da varíola e acabou sendo enterrada em uma vala comum, com o passar dos anos, a população passou a reconhecer o papel fundamental de Mãe Bonifácia para a sociedade mato-grossense. Sua forte presença marcou a vida das pessoas que tiveram acesso aos seus lindos tecidos feitos de renda e a sua grande generosidade, curando os enfermos,  ajudando ao seu povo e mostrando à população a força presente na mulher africana e em sua religiosidade e cultura ancestral.

Mãe Bonifácia é um exemplo para toda a população mato-grossense,  em especial, para a população negra, pois foi uma forte presença na luta e resistência contra a escravidão. Uma matriarca africana que está sempre pronta a cuidar de nós quando nos sentimos desamparados e aflitos.

Atualmente, em Cuiabá, na região em que morava Mãe Bonifácia, localiza-se um  parque, que leva o seu nome. O Parque Mãe Bonifácia possui 77 hectares e foi construído em sua memória e em honra aos seus grandes feitos.  Um parque tão acolhedor e aconchegante que lembra a casa e os cuidados de Mãe Bonifácia.

 Ainda sobre Mãe Bonifácia, conferir vídeo no link abaixo:

Mãe Bonifácia



MARIA TAQUARA

Breve histórico

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Modificou e fez uma revolução na maneira de pensar de uma geração de mulheres e homens, na década de 1940 em Cuiabá. Contava aproximadamente 1,80 metros de altura, esguia, magra, cabelos curtos, pouco se importava com o que diziam a seu respeito. Era moradora de terreno baldio e fumante de cigarro de palha. Chegou a ser detida por certo tempo, é o que narram, pelas vestes inapropriadas para a época. Há relatos de ser a primeira hippie no Brasil, usava calças, coisa que na década de 1940 era algo realmente subversivo a uma mulher. Maria Taquara foi responsável por fazer o diferencial por Cuiabá. Enquanto as outras mulheres caminhavam por mesmos passos, com ações a se esperar de toda e qualquer mulher, ela quebrava paradigmas, pois não estava disposta a ser o “mais do mesmo”.












MARIA TAQUARA: Mulher negra, empoderada e livre: um mito para a história de Mato Grosso.


Roteiro: Cristina Soares e Everson Constantino

Ilustração: Cristina Soares


Nos anos de 1940, o estado de Mato Grosso passava por fortes mudanças. Neste período, a capital, Cuiabá,  recebeu uma visita do então presidente do país, Getúlio Vargas, que chegou à região com o intuito de apoiar um projeto de modernização, por meio da migração de pessoas, em um projeto denominado “Marcha para o Oeste”. Tal projeto marcou, sem dúvidas, a década de 1940  em Mato Grosso. 

A modernização urbana que, por sua vez, estaria acompanhada de intensas negociações e disputas por posse de territórios, foram elementos bem característicos, em se tratando da formação do estado de Mato Grosso. 

Nesse período, as disputas políticas e a luta por ter o nome registrado na história local são acirradas e o protagonismo político está registrado na historiografia local como um assunto de homens brancos.

O papel do homem como único capaz de exercer a liderança, era fruto de uma sociedade machista, a qual reservava à mulher os afazeres domésticos e a privação de ser uma voz ativa até mesmo em seu lar.  

A mulher, nesse contexto, não possuía participação alguma nas decisões, pois os homens eram colocados no centro do contrato político, social e religioso, ditando as regras que as mulheres deveriam seguir e acatar. Desta forma, submetiam as mulheres a uma posição de cidadãs de segunda categoria, destinadas a terem suas vidas decididas por seus pais e, conseguintemente, por seus maridos, os quais passavam a ter todo o poder de decisão sobre elas. A valorização intelectual do gênero feminino nessa época não existia. Esse papel de cidadã de segunda categoria estava reservado às mulheres brancas, pois nesse contexto, as mulheres negras tinham um papel ainda mais subalterno.

 As mulheres deveriam ter padrões de comportamento que os homens estabeleciam como norma. A  sociedade mato-grossense, na década de 1940, valorizava apenas a mulher que se sujeitava a viver em função do homem, levando em  consideração as questões da “moral, dos bons costumes e da família”. Nessa visão patriarcal de  sociedade, as mulheres não desfrutavam de nenhuma liberdade de expressão ou de escolha.

O fato de a mulher não poder ter um papel participativo dentro dos parâmetros sociais nos anos de 1940 a colocava como uma personagem destinada ao casamento muito cedo e a viver em função do marido, do lar, dos filhos e dos idosos. 

A expressão religiosa da época, com seus dogmas, tabus  e suas rigorosas privações e  vigilância, imputava às mulheres o papel de uma figura maternal e imaculada, validando o pensamento machista de que sua única função seria servir e procriar. Tal ponto de vista caracteriza o estilo de vida comum deste período.  

Nesta fase de constantes transições e de forte presença do machismo, se revela em Cuiabá a presença marcante de uma  mulher negra, marginalizada  do projeto de progresso em Mato Grosso,  que mostra em sua personalidade, traços distintos de alguém que desafiou seu tempo histórico. Ela era conhecida por todos como Maria Taquara. 


 

Tendo um estilo de vida próprio e determinado, Maria Taquara  foi mulher incomum, atuante e de certa forma ‘desajustada’, se forem levadas em conta as expectativas que a sociedade brasileira e mato-grossense tinha em relação às mulheres do seu tempo. Trabalhava como lavadeira e desfilava pelas ruas com uma trouxa de roupas na cabeça, cumprindo o exercício de seu ofício e garantindo, assim, seu próprio sustento. 

Ela vivia de seu trabalho e de forma diferente do que costumavam esperar das mulheres, por essa razão, era incompreendida pela população mato-grossense . Maria Taquara assumiu o domínio de seu tempo histórico ao se fazer dona de suas decisões e de seus atos, tidos como peculiares, em uma época onde todos os gestos, sentimentos e vontades eram ditadas por homens. Nesse período crítico em que mulheres não podiam expressar seu pensamento e não estavam presentes  no mercado de trabalho, ela  demonstrava sua independência em relação aos homens, à sociedade e a tudo que lhe teria sido imposto. 

Maria Taquara intrigava e cativava a todos com seu estilo de vida próprio e determinado, tendo seu sustento garantido com a força de seu trabalho. Era marcante para as mulheres  brancas que não estavam acostumadas a ver uma mulher trabalhando e tendo seu sustento, porém, para as mulheres negras, o trabalho sempre foi algo normal, pois mesmo no período de escravidão, mulheres negras livres, conseguiam se manter por meio de vendas de produtos e da força de seu trabalho. O que chocava a sociedade era o fato de Maria Taquara estar presente nos lugares que antes não se viam muitas mulheres negras. Ela estava presente em muitos locais, se afirmando como mulher que também pertencia àqueles espaços.

Com aproximadamente 1,80 de altura, era dona de atos ousados, como por exemplo, o uso de calças numa época em que às mulheres era reservado apenas o uso de saias e vestidos. O uso de calças se tornou algo de escandaloso em uma sociedade que impunha à mulher cada peça de roupa que ela deveria usar, mas para a ‘transgressora’ Maria Taquara, usar calças foi uma forma de se posicionar diante de todas as imposições que martirizavam as mulheres. 

Conta-se que, certa vez, Maria Taquara decidiu sair para beber e bebeu a tal ponto de total embriaguez. Ao andar pelas ruas, por estar completamente ébria, perdeu o controle de seu corpo e se deitou no chão. Ficou lá deitada por um tempo até que os ventos, típicos da primavera, acharam por bem levantar sua saia. 

Os vizinhos, escandalizados com a cena, acionaram a polícia, que chegou ao local e a vestiu com uma calça masculina. 

Quando voltou a seu estado normal e estando sóbria, Maria Taquara percebeu que estava vestida com uma  calça masculina e logo, sem demora, a adotou como parte de seu vestuário. As pessoas passaram a se espantar ao vê-la com aquela traje, pois viam a calça como uma peça atípica para uma mulher. 

Tudo isso causou grande impacto. Por esse ato ser incomum a uma sociedade conservadora do recato feminino, Maria Taquara surgia como uma má influência, uma transgressora dos “bons costumes”. Desse modo, a sociedade a rotulou como subversiva, por considerar absurdo uma mulher definir o que seria melhor para si e pelo fato de posicionar-se diante das imposições contra as mulheres de seu tempo. 

 Maria Taquara  não se conformava com as restrições que a cultura machista impunha às mulheres, dessa forma, usava de sua liberdade para se opor à sociedade e subverter o domínio do patriarcado, uma de suas formas de subversão, era também o hábito de fumar cigarros de palha, ato reservado apenas aos homens.

Maria Taquara mostra-se autêntica e dona de seus anseios e atitudes, à frente de várias  mulheres da época, por não se subjugar a aceitar uma vida imposta, repleta de privações. Ela, por ser negra e mulher, não estava inserida no projeto de educação, ou seja, não podia frequentar a escola, no entanto, criou seu estilo de vida próprio e determinado.  No contexto em que estava inserida, as mulheres brancas tinham privilégios com relação a ela, pois, ser negra em uma sociedade machista e racista fazia com que Maria Taquara fosse vista pelas pessoas brancas como alguém que não se encaixava no que é ser feminino, pois, ser feminino passava por se comportar como as mulheres brancas, por isso, o comportamento de Maria Taquara incomodava os homens e as mulheres brancas na sociedade. Porém, Maria Taquara sabia que o lugar de onde ela veio, o continente africano, é um lugar de mulheres fortes, que são sujeitos de sua história.

Na década de 1940, havia um Estatuto, construído por Getúlio Vargas, que era voltado à família. Este Estatuto tinha como primazia a necessidade de aumentar a população brasileira e lutar pela proteção da família em sua estrutura tradicional. O documento dizia que  os homens deveriam ser educados de modo que se tornassem plenamente aptos para a responsabilidade de chefes de família, já às mulheres seria dada uma educação que as tornasse afeiçoadas ao casamento, desejosas da maternidade, competentes para a criação dos filhos e capazes de administrar a casa. 

Maria Taquara contradizia todos esses quesitos e causava muito alvoroço com seu comportamento e atitudes tidas como “excêntricas”. Era solteira e se mostrava dona de si e de suas atitudes, vivia do próprio trabalho e não tinha medo de expressar suas opiniões. 

 Ao se destacar por seu posicionamento firme em relação às suas escolhas, Maria Taquara quebrava tabus e mostrava sua força em uma sociedade marcada pelo machismo e pelo racismo. Ela é um exemplo de inteligência, resistência e coragem, pois em um contexto de tamanha subalternização à figura da mulher, ela  não se rendeu aos dogmas religiosos e nem aos parâmetros estabelecidos pela sociedade. Ela é um exemplo de como a situação das mulheres negras é diferente da situação das mulheres brancas em uma sociedade ocidental. Ela é também um exemplo de que para sobreviver e vencer a colonização, deve-se buscar valorizar a própria identidade africana. Maria Taquara assustava muitas pessoas brancas por ser uma mulher de atitude, porém, em sua comunidade de mulheres negras, suas irmãs sabiam que ter atitude era um dos requisitos para vencer o racismo impregnado na sociedade. Contudo, ela foi um grande exemplo para a luta feminina, tanto de mulheres negras quanto de mulheres brancas.

 Ela não era nada convencional para a realidade das mulheres brancas na sociedade cuiabana. Como era uma pessoa que sempre estava andando pela cidade, tornou-se uma figura conhecida e chocava as demais mulheres por se portar de  uma forma que não era permitida a elas. Maria Taquara era dona do seu corpo e de sua vida, ela saía e bebia  com amigos e pessoas próximas ao seu convívio social, fumava e se vestia para agradar a si, não aos outros. Esse foi o estilo de vida adotado por ela que despertou curiosidade, repulsa e admiração, e mostrou a força e a coragem da mulher africana naquela sociedade,  mostrando-se autêntica em suas escolhas e decisões. 

Maria Taquara representa muitas outras “marias” que, por conta de todo o processo de escravidão no Brasil e da falta de políticas públicas para as populações que foram escravizadas, estiveram à margem da sociedade. São “marias” que foram taxadas de subversivas e não femininas, devido ao fato de não possuírem a "delicadeza" e fragilidade de uma mulher branca que nunca precisou trabalhar para se sustentar e que não tenha sofrido pelas mazelas causadas pelo racismo. Mulheres lavadeiras, cozinheiras, empregadas domésticas, entre  outras, não incluídas no projeto educacional e nem na ideia de progresso, esquecidas e exploradas pelo patriarcado, porém, mulheres fortes e resistentes, que não abriram mão de sua identidade e lutaram contra o sistema opressor.



Não  consta na história oficial de Mato Grosso, algo que conte sobre a sua vida, o seu paradeiro ou a localização da sua moradia. O que sabemos sobre Maria Taquara é através da história oral e de registros na imprensa local. Existem  relatos que descrevem alguns momentos vivenciados que atribuem a ela uma dose de rebeldia. Conta-se que era de pouco assunto, mesmo assim, devido a suas atitudes se tornou bastante  popular. Alguns relatos dizem que Maria Taquara residia em um rancho onde hoje se localiza o Shopping Goiabeiras, em Cuiabá.


Atualmente, localiza-se no centro da cidade de Cuiabá, a praça Maria Taquara, com uma estátua  construída em sua memória. Por ter sido uma personalidade feminina negra de grande ousadia e coragem em uma época tão difícil em vários aspectos, Maria Taquara se tornou um exemplo de mulher africana inspiradora. Sobre ela, existem hoje poesias, relatos pessoais e muito respeito por parte das demais mulheres que veem em suas atitudes a força necessária para também lutarem. Sua vida se tornou material de trabalho do conceituado artista plástico João Sebastião que, por meio da arte, demonstra sua sensibilidade ao caracterizar a estátua de Maria Taquara e  personificar sua imagem com talento e maestria e, com isso, eterniza sua presença. A obra faz parte do acervo cultural mato-grossense. Maria Taquara é um exemplo a ser seguido, uma personagem que devemos respeitar, uma mulher que quebrou tabus, vencendo uma sociedade estruturada no racismo e nos domínios estabelecidos por homens que reprimiam a liberdade feminina. Essa mulher africana ergue sua bandeira e trava sua luta, tornando-se uma inspiração, uma forte existência, um mito, sem sombra de dúvidas. 


Ainda sobre Maria taquara, conferir vídeo no link abaixo:

Maria Taquara



TEREZA DE BENGUELA

Breve histórico

Viveu no século XVIII e se tornou a líder do Quilombo do Quariterê, após a morte de seu marido, José Piolho. Sob a liderança de Tereza de Benguela, a comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por duas décadas. O Quilombo do Quariterê,  que é conhecido como o maior quilombo em Mato Grosso, abrigava mais de 100 pessoas, com destacada presença de negros e indígenas. Tereza navegava com barcos imponentes pelos rios do Pantanal. Todos a chamavam de “Rainha Tereza”. Em homenagem a Tereza de Benguela, o dia 25 de julho é oficialmente, no Brasil, o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. A data comemorativa foi instituída pela Lei nº 12.987/2014.



TEREZA DE BENGUELA: Rainha do Quilombo do Quariterê

Roteiro: Cristina Soares e Everson Constantino

Ilustração: Cristina Soares


Em meados do século XVIII, no período correspondente  aos anos de 1730 e 1770, a capitania de São Paulo, atualmente Mato Grosso, passou a ter uma economia que se baseava em sistemas produtivos, que além da mineração (que passava por um momento de crise), estaria a cana-de-açúcar, a erva-mate, a poaia, a borracha e a pecuária. As intensas atividades econômicas estavam baseadas no trabalho escravo. 



Esse trabalho era realizado por pessoas africanas ou  afrodescendentes. Os africanos foram trazidos à força para o Brasil por meio do tráfico humano no transatlântico, em embarcações que os colonizadores chamavam de navios negreiros, já os afrodescedentes eram filhos dos africanos, porém nascidos em território brasileiro.

Duas regiões do continente africano estão entre as mais afetadas pelo tráfico. A primeira é a África Ocidental, também conhecida como Costa da Mina, entre Gana e Nigéria. A segunda, é a África Central, que se estende do Gabão até o Sul de Angola. Juntas, essas áreas corresponderam a quase 80% do total do comércio de cativos no Atlântico. Para a região de Mato Grosso foram trazidos muitos cativos da África Central.


Os cativos trabalhavam tanto na mineração, como nos canaviais e também nas fábricas. Além disso, eram responsáveis pela produção de outros gêneros de abastecimento que a unidade produtora, na qual pertenciam, comercializava, como feijão, milho, café, mandioca ( e seus derivados), toucinho, entre outros. Nos engenhos trabalhavam homens, mulheres e crianças que tinham suas tarefas divididas por sexo e idade. Muitos dos escravizados eram mão de obra qualificada como pedreiros, carpinteiros, ferreiros, sem contar os que eram reis e rainhas no continente africano, porém, a maioria era ocupada nos trabalhos da lavoura.

Na maioria das vezes, o trabalho era conduzido por um feitor que controlava o trabalho dos cativos. Esse feitor intermediava as relações entre senhor e escravizados. Essa posição era bastante incômoda nessa relação conflituosa, mas o feitor considerava um ganho, pois, era investido de autoridade do senhor e passava a exercer um forte poder dentro dos limites da propriedade. O feitor era peça fundamental no sistema de dominação pessoal que era a escravidão, pois, a violência que  era característica intrinseca  no sistema colonial, era atribuída ao feitor e não à colonização. O senhor utilizava o feitor como meio de disciplinar os escravizados que possuía em sua propriedade e, muitas vezes, mantinha uma imagem de “senhor benevolente” porque dava a entender que o violento era apenas o feitor.

Os cativos, logo que desembarcavam dos navios, eram apresentados por seus senhores com a aparência mais saudável possível, em feiras para serem comercializados. Os senhores tentavam disfarçar qualquer cicatriz, ou sinal da violência sofrida no processo de escravidão a fim de impressionar os compradores e, assim, obter preços melhores por eles.  O processo de venda envolvia uma série de humilhações para os escravizados que, exaustos pela travessia do oceano e assustados ao chegar a uma terra desconhecida, seriam submetidos a um minucioso exame dos seus corpos, incluindo as partes íntimas.


Isso acontecia não apenas na capitania de São Paulo (atual Mato Grosso), mas também, em larga escala, no território nacional brasileiro. O trabalho forçado era fruto de um sistema totalmente injusto.



Os senhores de escravos tinham o propósito de enriquecer às custas do trabalho  de quem, salvo raras exceções, era livre em sua terra de origem. Tais homens e mulheres, ao serem capturados e trazidos à força ao Brasil, deveriam se sujeitar às péssimas e insalubres condições de trabalho, sem nenhum reconhecimento ou remuneração salarial, sem direitos básicos de saúde e moradia adequada. Quando eles eram capturados no continente africano, passavam por um processo de tentativa de apagamento de sua identidade, isso é o que podemos chamar de colonização das mentes. Existe uma lenda, que nasceu após a colonização, chamada de lenda do Baobá. Essa lenda conta que, antes de serem embarcados nos navios negreiros, os escravizados africanos, sob chibatadas, eram obrigados a dar dezenas de voltas em torno de um imenso Baobá, enquanto depositam suas crenças, suas origens, seu território enfim sua essência, para em seguida serem batizados com uma identidade cristã-ocidental e enviados para o cativeiro. Nessa lenda, o Baobá, que para o africano era considerada a “árvore da vida” passa a ser a “árvore do esquecimento”, pois os escravizados teriam deixado ali toda sua memória (sabedoria). 

O leilão era a forma mais comum de venda de cativos no Brasil, o valor dos escravizados era comparado aos valores de animais de carga. Pagavam um preço baixo em pessoas de valor incalculável.

Os cativos ligados diretamente ao sistema produtivo, recebiam o nome de “escravos de eito”, estes moravam nas fazendas e residiam nas senzalas. Os que estavam ligados à venda da produção, eram chamados de “escravos de ganho” e residiam nas cidades. Além desses, existiam os “escravos domésticos”, que eram aqueles que se dedicavam exclusivamente às tarefas da casa dos senhores. Independente de qual função o cativo exercia, ele estava sujeito às violências da escravidão. Chamar o escravizado de “escravo” era uma forma de diminuí-lo enquanto ser humano, pois escravo era sua condição e não sua identidade.

As fazendas ocupavam grandes extensões de terras, eram áreas de sesmarias requeridas e registradas no século XVIII. Além dos engenhos e fazendas, existiam os sítios, que eram propriedades menores e também faziam uso do trabalho escravo. Nestes sítios se produziam gêneros de primeira necessidade, como mandioca, feijão e milho e o excedente era destinado ao mercado interno. Nessas propriedades, os donos não eram tão ricos quanto os donos das fazendas e engenhos. Porém, tanto um quanto o outro obtinham seus lucros às custas do trabalho feito por africanos e afrodescendentes escravizados.

A escravidão era um sistema baseado na dominação, na violência física, administrada de acordo com a vontade do senhor. O castigo tinha a dupla função de ser punitivo e ser exemplo e, por outro lado, a premiação do cativo “dócil” e educado também tinha a função de disciplinar os outros a seguir o exemplo.

Mesmo que a colonização tenha tentado tirar do africano e seus descendentes a sua identidade, muitos ainda se fortaleceram com a lembrança de sua terra e dos fortes guerreiros nas quais eles descendiam. 

Na memória daqueles que vieram da África central estava fortemente presente a lembrança de Nzinga, rainha do Ndongo e de Matamba, na região onde hoje é Angola que, juntamente com os guerreiros jagas, lutou e resistiu à colonização portuguesa. Muitos já tinham resistido a escravidão de diversas formas e sabiam da existência, em anos anteriores, do quilombo dos Palmares, na Serra  da Barriga, em Alagoas. Eles ouviram dizer que em Palmares as pessoas eram livres e tinham costumes bastante parecidos com os costumes de sua terra. Por mais que parecesse algo arriscado, um grupo de pessoas resolveu que a fuga seria uma forma de conseguirem resistir a escravidão e viver em liberdade, assim como viveram seus irmãos em Palmares.


 Tereza de Benguela conheceu seu esposo, Zé Piolho, em uma das fazendas de cana de açúcar. As condições de vida naquele lugar eram péssimas, o feitor se aproveitava da autoridade, que tinha ganho de seu senhor, para castigar aqueles que estavam prestando serviços forçados. Tereza sabia que aquilo não era justo, sabia das histórias que sua mãe lhe contava sobre sua terra, conhecia as músicas de ninar cantadas em iorubá. Ela se recusava a ter que ser uma escrava doméstica, a ter filhos para ser ama de leite e a amamentar os filhos da sinhazinha. Ela e Zé Piolho conheciam muito bem o território, sabiam dos riscos da fuga, mas também sabiam que a única chance de viverem em liberdade seria convocar seus irmãos e  articular formas de fugir da escravidão.




Tereza de Benguela, nasceu durante a travessia em um navio negreiro. Sua mãe sabia que ela possuía o poder e a força da deusa do fogo Iansã (Oyá). Quando ela nasceu, os padres a batizaram com o nome católico, Tereza, eles acreditavam que Tereza pudesse perder sua identidade por conta disso. Porém, sua mãe, vinda de Benguela, ensinou a Tereza o valor de não esquecer quem ela era e de onde viera. Assim, mesmo tendo sido separada de sua mãe e indo morar como cativa na fazenda, Tereza buscava na memória o que ela havia aprendido sobre sua Mãe África e sobre o valor da liberdade. Benguela passou a ser um sobrenome para ela, um nome que a faria recordar de onde ela veio e, dessa forma, a lembraria de que a força e o fogo de Oyá poderia ajudá-la a lutar contra aqueles que a levaram cativa.

 

Diante de sua postura, Tereza de Benguela foi comparada a personagens mitológicos e a antigas rainhas africanas. Possuía uma inteligência ímpar e múltiplos talentos. Tereza de Benguela representava para seu povo, desde o início, uma voz que os lembrava da voz das fortes mulheres no continente africano. Ela era uma mulher de  atitude, que acabou por se mostrar como um farol e apontar  novos horizontes, novas possibilidades de vida ao seu povo.


Assim, Tereza de Benguela, juntamente com Zé Piolho articulam planos de fuga. Eles conheciam a região, pois já haviam sondado há um bom tempo e de diversas formas a localidade em que se encontravam. Reuniram-se secretamente e estrategicamente elaboraram um plano que, apesar dos riscos, seria a forma mais segura de fugirem.

Assim que os guardas da fazenda foram trocar o turno da vigília, Tereza, Zé Piolho e o restante do grupo aproveitaram para fugir. A fuga exigia muito esforço, por isso, planejaram ir em um pequeno grupo e mais tarde voltar e buscar os que ficaram para trás. Correram por dentro de uma mata fechada, em alguns momentos paravam e recobravam as forças tomando a água e comendo um pouco de carne seca, toucinho e farofa que haviam levado na viagem. Foi uma fuga bastante cansativa e perigosa. Eles saíram à noite e só pararam pela primeira vez para descansar quando perceberam que estavam fora de perigo.

Tereza corria e de seus olhos saíam lágrimas por se sentir livre. Ela tinha ciência de que nunca mais voltaria ao cativeiro. Nos planos de fuga, Zé Piolho havia proposto a construção de um forte, próximo a Vila Bela da Santíssima Trindade, que naquele momento representava um enorme poder político e administrativo para o estado. A cidade se localizava às margens do rio Guaporé, na fronteira com a Bolívia, e fora escolhida para ser capital no intuito de  consolidar e preservar a expansão do território na fronteira portuguesa. 


Vila Bela era ponto estratégico para guardar a fronteira nas disputas com os espanhóis. Sendo localizada naquele local específico, essa região teria um constante fluxo de intensas negociações e disputas políticas, ou seja, uma enorme movimentação de pessoas. Por isso, quando planejaram a fuga, elaboraram juntamente um plano de construção de um forte, um quilombo, que seria feito em um lugar escondido e, ao mesmo tempo, seria próximo ao rio Guaporé e a Vila Bela.

Quando chegaram ao local perceberam que poderiam construir algo muito parecido com os quilombos que conheciam na região de Benguela, ou seja, um local com pessoas armadas para proteger a população e, ao mesmo tempo, um lugar em que as pessoas poderiam viver como se estivessem em uma vila. Seria um lugar de liberdade. Construíram o quilombo que recebeu mais tarde o nome de Quilombo do Piolho (que em Tupi significa quariterê). Zé Piolho foi colocado como líder, governando ao lado de Tereza de Benguela.


O Quilombo do Quariterê passou a ser um lugar seguro em que as pessoas fugiam da escravidão sabendo que tinham pra onde ir. Quando as pessoas chegavam no quilombo, podiam ter uma vida livre e segura, conscientes do seu valor e do valor de sua terra. Muitos já podiam sonhar em voltar para sua terra, pois a liberdade foi algo que os possibilitou o retorno aos sonhos. Aos poucos uma identidade africana foi sendo estabelecida no quilombo. As crianças podiam aprender e ser educadas pela comunidade, que respeitava os mais velhos, a natureza e sua religião africana.



A colonização tentou tirar dos africanos e seus descendentes a consciência de humanidade, porém, quando eles estabeleceram para si um lugar longe do cativeiro, sua cultura e sua história os fizeram lembrar o quanto eles eram pessoas importantes, alegres, inteligentes e fortes. Ali, eles estavam livres para expressarem sua linguagem, sua cultura, sua religião ancestral e fazerem suas escolhas. Naquele lugar, percebiam que suas vidas tinham valor.

Esses homens e mulheres, outrora cativos, se estabeleceram e se fortaleceram por meio de uma ajuda mútua. Muitos escravizados fugiam e chegavam no Quariterê e somavam com aqueles que já estavam ali. Além dos africanos também se faziam presentes no quilombo os Pareci- Cabixis, que foram povos indígenas com quem os quilombolas criaram uma relação que acabou possibilitando uma troca cultural no quilombo. O Quariterê chegou a reunir no total, 79 pessoas negras e 30 indígenas. O intercâmbio cultural que tinham, possibilitou a conquista de uma estabilidade econômica com a plantação de milho, mandioca, feijão, banana e algodão. A partir do algodão eles fabricavam tecidos. Tudo o que se produzia no quilombo superava o necessário apenas para a subsistência dos moradores, por isso eles também vendiam aquilo que cultivavam.

O Quariterê era um lugar de difícil acesso, por isso, era difícil ser encontrado pelos inimigos. Além disso, eles se preparavam, estudando as melhores táticas para manter o quilombo em pé. As armas utilizadas na defesa do quilombo eram adquiridas no espólio de combate ou por meio de trocas. As principais fontes de renda eram, portanto, a troca e a venda desses produtos aos diversos comerciantes que passavam por aquela região. Isso lhes possibilitava ter acesso a armas, utensílios de uso pessoal e tecidos para suas vestimentas. 

Tereza comandou a estrutura política, econômica e administrativa do quilombo, mantendo um sistema de defesa com armas trocadas com os brancos ou roubadas das vilas próximas. Os objetos de ferro utilizados contra a comunidade do quilombo, eram transformados em instrumentos de trabalho, pois os quilombolas, baseados no conhecimento ancestral dos africanos, dominavam o uso da forja.

Nessa fase, Tereza de Benguela, navegava nos barcos imponentes pelos rios do Pantanal.

Tereza de Benguela, juntamente com Zé Piolho, estabeleceu no Quilombo do Quariterê uma forma de governar que funcionava à semelhança de um parlamento, com deputados, um conselheiro, reuniões e uma sede. 

Os deputados do Senado se reuniam uma vez por semana, em uma casa destinada exclusivamente para os encontros. Quando discutiam, além de questões de administração, também planejavam as táticas de defesa do quilombo.

Em 1750 Zé Piolho foi assassinado por soldados do estado. A comunidade do quilombo, que já tinha uma herança de organização social com base no matriarcado africano e conhecendo a forma de governança de Tereza de Benguela, decidiram que ela seria sua rainha. Dessa forma, Tereza de Benguela assume por completo a liderança do Quilombo do Quariterê  e passa a ter pleno controle sobre todas as movimentações e decisões do quilombo. 



Quando Tereza de Benguela passou a governar o Quariterê, pode mostrar àqueles que ainda se encontravam escravizados, que o quilombo representava uma antítese de tudo o que a escravidão representa. Aqueles que chegavam no quilombo tinham uma vida livre. Dessa forma, muitas pessoas passaram a fugir para ir morar no Quilombo do Quariterê. Isso causou enormes prejuízos materiais aos escravizadores, que perdiam aqueles que eles consideravam mercadoria.


Tereza de Benguela sabia que descendia de um povo guerreiro. Quando era criança ouvia os mais velhos contarem sobre os guerreiros jagas, que assustavam os colonizadores. Ela ouviu dizer que eles foram os primeiros a estabelecerem os Quilombos e que nesses locais eles se preparavam para lutar. Ouviu também sobre a rainha Nzinga e sobre a união que ela teve com os jagas e que chegou a ter o título de Temba Nbumba, que é o título de rainha no quilombo dos jagas. Sua mãe lhe contou que Nzinga, assim como ela, recebeu pelo batismo um nome cristão, Ana de Souza, no entanto, ela nunca esqueceu quem era de fato. Tereza se lembrava de cada detalhe de sua história, lembrava de Iansã e pedia forças para proteger seu quilombo.

Tereza de Benguela reinou no Quilombo do Quariterê por duas décadas, as quais foram de paz e abundância para o seu povo. Entretanto, em 1770 o Quariterê sofreu um violento ataque, ao comando da capitania mato-grossense liderada pelas forças de Luís Pinto de Sousa Coutinho. Nesse ataque, 75 quilombolas são mortos. 


Alguns poucos sobreviventes fugiram e as demais pessoas foram aprisionadas pelos bandeirantes, dentre os prisioneiros estava Tereza de Benguela.





Tereza de Benguela foi colocada na prisão e marcada, juntamente com os demais que foram capturados, com um F de “Fujão”. Quando os senhores capturavam seus escravizados, marcavam seu rosto com esse “F”, como uma forma de puni-los e mostrar aos demais que deveriam ficar longe dessas pessoas de "má influência". Geralmente as pessoas que possuíam essa marca eram tratados de forma diferenciada pelo feitor, que os usava para mostrar aos outros quais seriam as consequências da fuga.

Tereza de Benguela foi capturada, marcada no rosto e, depois de sofrer várias outras formas de violência foi presa em uma cela. Sentada na cela da prisão, Tereza imaginava como seria poder ter nascido em sua terra e não na travessia, no navio negreiro. Pensava em como seria poder ter se banhado no rio Kwanza e lembrava das histórias de Baobá. Ela imaginava como seria maravilhoso reencontrar seus ancestrais. Tereza de Benguela se sentia cansada do preço caro cobrado por ser filha de um continente tão rico. Ficava imaginando: Como seus pais poderiam pensar que um dia sua força se transformaria em mercadoria nas mãos dos colonizadores? 

Algo que a deixou profundamente abatida foi o fato de perceber que, naquele momento, não poderia defender seu povo do destino que os aguardava. Ela percebeu que, marcados e sofridos, eles seriam devolvidos para seus antigos “donos” e retornariam ao sofrimento da escravidão. 

A sensação de impotência diante da circunstância vivida, a angústia e a situação de se encontrar em tão tenebroso cativeiro levaram Tereza de Benguela a ser tomada por um profundo pesar. Em 1770 receberam a notícia que ela havia morrido na prisão. Porém, os colonizadores nunca revelaram como de fato ela morreu, eles diziam que ela havia se suicidado, mas outros diziam que seus algozes a tinham assassinado, porém, temeram que seu povo (escravizado e livre) soubesse e fizesse um levante contra eles.


Após sua morte, Tereza de Benguela foi decapitada e colocaram sua cabeça em uma estaca de madeira bem alta, para expor sua imagem e intimidar os demais a não fugirem novamente. 

Após a morte da rainha, os poucos sobreviventes refugiados se negaram a se entregar e decidiram lutar novamente pela reestruturação do forte, Quilombo do Quariterê. Infelizmente todos foram derrotados e exterminados pela armada da coroa da época. 


Mesmo que tenham tido um trágico fim, não devemos ofuscar os atos heróicos. Devemos nos lembrar  que o Quilombo do Quariterê sobreviveu durante muitos anos e naquele lugar as pessoas tiveram uma vida livre. São incontáveis os benefícios e a extraordinária importância sociocultural do quilombo para a população negra.

Quando os colonizadores capturaram Tereza de Benguela, imaginaram que pudessem levá-la cativa novamente, o que eles desconheciam era quão forte era a pessoa com quem eles estavam lidando. A rainha jamais voltaria ao cativeiro, ela sabia que seu exemplo de força traria a libertação para muitas pessoas. Tereza de Benguela passou a ser um espelho ancestral para as pessoas negras que lhe sucederam, principalmente para as mulheres negras que se sentem tão rainhas quanto ela.

 

Tereza de Benguela marcou a história do Brasil no século XVIII. Estrategista militar e dirigente política mostrou à sociedade colonial, com um sistema totalmente racista e patriarcal, o quanto uma mulher negra pode abalar as estruturas da sociedade, quando tem consciência do seu valor e de sua identidade.

Por reconhecer a potência e força da rainha Tereza de Benguela, no dia 25 de julho é comemorado no Brasil o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da mulher negra. Esta data se instituiu, baseada na lei nº 12.987/2014. 

Na cidade de Cuiabá, estado de Mato Grosso, existe uma escola que recebe seu nome: “Escola Municipal Tereza de Benguela”. Deste modo, eterniza-se a existência desta mulher africana, que de escravizada, se tornou líder e rainha, um exemplo de extraordinária coragem e determinação, uma personalidade única e marcante na história como um todo, uma representante feminina de valores inigualáveis ao processo de socialização do povo africano em território nacional, que merece ter seus valores reafirmados dentro da cultura mato grossense e um reconhecimento considerável do país.











Ainda sobre Tereza de Benguela, conferir vídeo no link abaixo:

Tereza de Benguela











ILUSTRES VISITAS PARA UM CHÁ CO BOLO



Passei um bom tempo conhecendo essas mulheres maravilhosas e ilustrando suas histórias, hoje estamos assim...íntimas. Me atrevo a tomar com elas um "chá co bolo", ou para outros, um chá da tarde. Nos sentamos, conversamos, rimos e choramos ao relembrar dos tempos difíceis.

Eu contei a elas como vivemos hoje, como o racismo está estruturado no Brasil e elas me abraçaram e me disseram que é tempo de  lutar e resistir. Me contaram sobre os tempos difíceis que viveram e disseram que a luta que travaram no passado deveria ser exemplo para mim hoje.

Mãe Bonifácia me contou sobre o quanto se sentia aliviada de suas dores no peito quando podia ajudar seus irmãos. Ela disse:

- Minha fia, eu enfrentei muitos pobrema pra módi ajudá meus irmão. Ês vinha si abrigá nu meu barraco i, si us feitô pegasse eu ajudano ês, ia morrê  nóis tudo. Óia minha fia, eu tinha medo, mas só que eu sabia que não pudia dexá o medo mi vencê. Meus peito até duía si eu num ajudasse meu povo.

Mãe Bonifácia disse que sentia medo, mas que não podia se dar ao luxo de permitir que ele a vencesse, pois seu povo precisava de sua ajuda e a liberdade de sua gente era algo maior que ela.

Quando eu me lamentei sobre como era difícil ser mulher negra na minha sociedade, Maria Taquara deu um trago em seu cigarro de palha e disse:

  • Óia, nega… vô fala pucê: Num foi fáci sê muié preta nu meu tempo não viu?! Mais escuta que vô te  falá uma coisa: foi bão contrariá  aquele povo, que achava que, por eu sê preta e muié, eu tinha que sê capacho. Num fui capacho de homi branco ninhum. Eu tinha meu sirviço, eu bibia cos meus amigo. Eu tinha minhas ideia. Eu aprindi cum minha mãe que a gente tem que valorizá nossa raça i que muié num é fraca não, muié é  forte i valenti.

Ela  falava e ria, contou como  sentia uma sensação de poder  contrariar aquilo que estava estabelecido como norma. Sentia-se dona de si, sentia-se exemplo para as demais mulheres. Maria Taquara disse que andar em liberdade e desafiar a sociedade excludente e racista, se posicionar e não aceitar os rótulos, fez com que ela percebesse como isso ajudou na sua auto estima.

  A rainha Tereza se manteve calada por um bom tempo, tomou uma xícara de café e pediu outra. Percebendo nossa conversa, soltou um suspiro e se lembrou de seus últimos momentos no cativeiro. Ela disse: 

Foi difícil ver meu  povo livre ter que se submeter novamente a um jugo tão injusto. 

A rainha disse que, ainda no cativeiro, analisando friamente a situação, percebeu que seu povo jamais seria subjugado novamente, a resistência, o anseio por liberdade jamais deixaria de segui-los. Ela soltou um enorme sorriso e disse que se sentia livre por ter cumprido sua missão, disse que sabia que todas as mulheres negras se veriam como rainhas por causa da sua história de luta e resistência, sabia que os negros e negras entenderiam o quanto uma ação, o quanto estudar, ter estratégias e focar em um objetivo, poderiam fazer as coisas darem certo… assim, tomou um último gole de café e disse: “Senti que minha missão estava cumprida,  senti que meu legado continuaria depois de minha partida. Meus últimos dias na terra foram felizes, pois em meu coração estava a memória do quilombo e a presença de meus ancestrais”.

Com meu caderninho de anotações, eu escrevi o que minhas emoções permitiram e saí daquela sala com a certeza de que, ao conhecer essas mulheres, minha vida nunca mais seria a mesma. 

                                                                                Cristina Soares



Referências:

BARROS, Edir Pina de, Quilombos: Resistência Negra em Mato Grosso, Novembro de 1989.

BARBOSA, Muryatan Santana. A construção da perspectiva africana: uma história do projeto História Geral da África (Unesco). Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 32, nº 64, p. 211-230 – 2012.

CHUDNOBSKY, Josefina. As consequências da colonização e descolonização africana. Centro Universitário Belas Artes De São Paulo. CONIC. SEMESP.

DIOP, Cheikh Anta. Unidade Cultural da África Negra: esferas do patriarcado e do matriarcado na antiguidade clássica. Editora Pedago. Lisboa, 2014.

DOVE, Nah. Mulherisma Africana, uma teoria Afrocêntrica. In: JORNAL DE ESTUDOS NEGROS, Vol. 28, № 5, Universidade Temple, Sage Publications. Tradução: Wellington Agudá, 1998.

FONSECA, Mariana Bracks. Nzinga Mbandi e as guerras de resistência em Angola.Século XVII. Dissertação apresentada para obtenção  do título de Mestre em História Social, à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP). São Paulo, 2012.

GONZALEZ, Lélia. Mulher negra. In: NASCIMENTO, Elisa L. (Org.). Guerreiras de Natureza: Mulher negra, religiosidade e ambiente. São Paulo: Selo Negro, 2008.

KILOMBA, Grada. Memórias da Plantação: Episódios De Racismo Cotidiano. Trad. Jess Oliveira. 1º Ed. Rio De Janeiro: Cobogó, 2019.

KI-ZERBO, Joseph (editor). História Geral da África. Vol I. 2 ed. rev. Brasília; UNESCO, 2010

MENDONÇA, Renato. A influência africana no português do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira/INL, 1973.

RODRIGUES, Bruno Pinheiro. Homens de ferro, mulheres de pedra: O Itinerário de resistências de africanos escravizados entre África centro-ocidental e América espanhola; fugas formação de quilombos e conspirações urbanas (1720-1809). 1 ed. Curitiba: Appris, 2019.

 VOLPATO, Luiza Rios Ricci. Cativos do Sertão: vida cotidiana e escravidão em Cuiabá: 1850/1888. São Paulo. Editora Marco Zero. Cuiabá, 1993.    


Outras fontes

Tereza de Benguela, a liderança negra brasileira

https://www.almapreta.com/editorias/realidade/tereza-de-benguela-a-lideranca-negra-brasileira

http://www.palmares.gov.br/?p=46450

Tereza de Benguela, uma heroína negra

https://www.geledes.org.br/tereza-de-benguela-uma-heroina-negra/

A escrava que virou rainha e liderou um quilombo de negros e índios

https://observatorio3setor.org.br/noticias/a-escrava-que-virou-rainha-e-liderou-um-quilombo-de-negros-e-indios/

A outra história de Maria Taquara. Entrevista com dona Eugenia

https://olivre.com.br/a-outra-historia-de-maria-taquara

Estátua da Prainha leva nome de lavadeira negra que viveu em Cuiabá

http://g1.globo.com/mato-grosso/aniversario-de-cuiaba/2016/noticia/2016/04/estatua-na-prainha-leva-nome-de-lavadeira-negra-que-viveu-em-cuiaba.html

Maria Taquara, Maria meu bem

http://historiografiamatogrossense.blogspot.com/2012/03/maria-taquara-maria-meu-bem.html

Maria Taquara: Produções culturais

https://issuu.com/produresculturais/docs/maria_taquara

Mãe Bonifácia

http://g1.globo.com/mato-grosso/noticia/2013/11/mulher-que-acolheu-escravos-da-nome-maior-parque-urbano-de-cuiaba.html

Quem foi  Mãe Bonifácia?

http://www.tvmaisnews.com.br/noticia/5652/quem-foi-mae-bonifacia-personagem-cujo-nome-foi-dado-a-um-dos-principais-parques-de-cuiaba

A história de Mãe Bonifácia por Marcos do Amaral Mendes

https://www.facebook.com/marcosamaralmendes/posts/1907545492882223/










“(...) Com meu caderninho de anotações, eu escrevi o que minhas emoções permitiram, e saí daquela sala com a certeza de que, ao conhecer essas mulheres, minha vida nunca mais seria a mesma.”





https://portfoliocrisgriot.blogspot.com/


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